De lavador de carros a lutador reconhecido: a história de Wilson "Fisk"
Atleta do MMA alagoano não perde desde 2015 e tem luta marcada para este sábado
Entrar em um octógono é um desafio. É treinar por horas, em quase todos os dias da semana, e ainda colocar o corpo em risco a cada round. A popularização do MMA, no Brasil, veio após o nocaute de Anderson Silva em Vitor Belfort, em 2012. Mas a verdade é outra: tem gente que vem treinando há dez, doze anos e só agora ganha reconhecimento.
Esse é o caso do lutador alagoano Wilson "Fisk" Santos. Na história dele, há de tudo um pouco: desafio, superação, reconhecimento e até desafios. Durante os treinos, é só alegria. Por dentro, a motivação borbulha: ele luta pela filha Maria Clara, de 4 anos, pela mãe, pela namorada, e também porque pegou gosto pela profissão.
A história de Wilson, entretanto, começa num hiato entre os treinos. Foi na necessidade de ganhar dinheiro em que ele construiu a primeira parte da história dos últimos anos.
- Me candidatei para uma vaga de frentista, mas a vaga já havia sido preenchida. O proprietário gostou do meu currículo e, durante a entrevista, ele falou que eu tinha muitas atribuições e, mesmo não tendo vagas, ele tentaria me encaixar no posto de gasolina. Desse jeito, acabei na parte de lavagem e acabamento de carros, coisa que eu fazia quando era garoto, de 14, 15 anos de idade, para ajudar nas despesas de casa.
- Era um momento muito difícil porque o serviço era insalubre, e a remuneração não dava pra pagar as contas da minha casa e pensão da minha filha. Foi uma fase sem muitas expectativas, onde eu estava fora de forma acima do peso e sem muita esperança de mudanças.
A guinada na história veio com a luta. Atleta muay thai e MMA, Fisk recebeu a proposta de voltar a ensinar. Foi a indicação de um amigo que abriu os caminhos. A aproximação das artes marciais, somada a vivência do esporte, ajudaram-no a ganhar um dinheiro extra. A saída do lava a jato veio logo depois. O investimento na carreira como lutador continuou.
- Por um tempo, fiquei sem saber o que faria pra viver. Mas Deus fecha uma porta e abre outras. Outros alunos foram aparecendo, e algumas academias. Comecei a me manter com o dinheiro das aulas e imediatamente voltei aos treinos. Cheguei com quase 80kg na academia e vi meus amigos de treino em ótima forma, com lutas marcadas, e com preferência nas oportunidades.
Ele não desistiu. Continuou treinando, esperando uma oportunidade, sem faltar. Fez novos amigos, entendeu mais de como deveria se comportar como lutador, e apoiou os amigos enquanto aguardava a sua chance. Retomou a forma, diminuiu a gordura corporal, e ganhou uma chance de retornar ao circuito.
- No início do segundo semestre do ano passado, apareceu a oportunidade de voltar a lutar. Foi uma luta na categoria amador, e uma ótima oportunidade para quem buscava um recomeço. De cara, aceitei. Dei meu melhor e venci. Em seguida, recebi um convite para lutar MMA num intervalo de menos de 30 dias. Não hesitei e aceitei a luta, conseguindo mais uma bela vitória. Os resultados foram ajudando nas conquistas de apoio e patrocínio.
Atualmente, Fisk chega na academia às 9h, vai correr às 10h, treina até 13h e continua lá até ir ao trabalho, no horário da noite. Nas ruas, começa a ser reconhecido. Nos eventos de MMA em que vai como espectador, alguns fãs já pedem fotos, trocam uma ideia e conversam. Ele atende a todos.
- Atendo a todos porque, há algum tempo, pouca gente sabia quem eu era. Ser reconhecido e tratar bem quem me reconhece faz parte do esporte. É algo que quero manter e que vou continuar fazendo. De tudo, só tenho a agradecer as meus treinadores, Júnior Pinheiro e Luiz Tigrão, amigos e patrocinadores que acreditaram em mim e investiram tempo e recursos pra o meu crescimento. Sem eles, nada seria possível.
por globoesporte.com/Maceió
fotos Josue Seixas