Juliano explica por que colocou o CRB na Justiça: "Três últimos meses fiquei sem receber salários"; clube contesta
Jogador diz que, na primeira audiência, o diretoria não quis fazer acordo. Presidente do Conselho Deliberativo do Galo, Fernando Paiva alega abandono de emprego
O volante Juliano colocou o CRB na Justiça do Trabalho. Nesta quarta, o jogador explicou que deixou o clube depois de ficar três meses sem receber salários e que, por isso, atrasou até compromissos pessoais.
Presidente do Conselho Deliberativo do clube, Fernando Paiva foi ouvido sobre o caso. Ele disse que o atleta abandonou o emprego e que fez o mesmo no Figueirense, no ano passado.
De acordo com Juliano, na primeira audiência na Justiça do Trabalho de Alagoas, o CRB não quis fazer acordo.
- O CRB não se pronunciou em momento algum sobre os atrasos do meu salário. Sabendo ser o único do grupo que estava lá cumprindo minhas obrigações sem receber até a minha saída e que continuo sem receber até o presente momento. Sendo assim, como qualquer trabalhador que cumpre suas funções e tenha que cumprir com seus compromissos, fui obrigado a procurar pelos meus direitos via judicial. Tivemos uma primeira audiência entre as partes, e a diretoria do CRB sequer cogitou um acordo. Só gostaria de resolver isso e seguir a minha vida. Reitero que não tive opção a não ser procurar meus direitos.
Juliano disse ainda que a diretoria não deixou que ele voltasse a trabalhar com os novos técnicos que chegaram ao clube. Foi afastado no período em que Mazola estava à frente do time, e depois foram contratados os treinadores Júnior Rocha e Doriva. Não teve chance.
- O que muita gente não sabe é como foram meus dias no clube após a final do Alagoano, não só fiquei sem atuar, como, por muitas vezes fui excluído de muitos treinamentos com o grupo, literalmente excluso e negligenciado, pois vim fazendo treinos em academia sem auxílio profissional e orientação de ninguém, treinei forte, não me abalei, e mesmo assim segui cumprindo minhas atividades diariamente, horários e cronogramas pactuados com o clube. Fui todos os dias ao clube, treinei forte em todos os momentos sem desanimar e perder o foco - explicou o jogador, e continuou.
- Estive lá cumprindo as minhas obrigações e uma importante observação a ser feita é a de que nesses três últimos meses fiquei sem receber meus salários acordados via contrato e que com isso deixei de cumprir meus compromissos financeiros com pessoas que nada tinham a ver com toda essa situação. Não reclamei em momento algum, mesmo com a certeza de que não seria mais utilizado devido decisões de “superiores “ e não pelas avaliações que as comissões técnicas que passaram por lá estavam realizando sob minhas atuações nos treinos.
Versão do clube
Presidente do conselho do CRB, Fernando Paiva rebateu as declarações do jogador.
- A proposta do CRB foi que ele retornasse a sua atividade. Inclusive, o CRB tinha convocado antecedentemente à audiência, tinha expedido uma notificação por AR para que ele se apresentasse ao clube, tendo em vista que desde 3 de agosto ele tinha treinando e não mais retornado ao clube e, no dia 20 de agosto, foi expedida essa correspondência para os endereços que o clube tinha dele, solicitando que ele comparecesse em 48 horas, sob pena de abandono de emprego. Em audiência, nós cientificamos ele dessa convocação formal do clube e, passadas as 48 horas da audiência, ele não compareceu. Isso já tem um efeito de descumprimento daquela notificação. A gente entende que houve abandono de emprego por parte dele.
Juliano, por sua vez, negou veementemente abandono de emprego e disse que a juíza do caso já lhe garantiu a rescisão de contrato, publicada na última terça no Boletim Informativo Diário da CBF.
- Quando completou os três meses que eles não me pagaram, entrei com ação. A partir do momento que entra com a ação, não precisa mais comparecer ao trabalho até ser solucionado o problema. A juíza já meu deu a rescisão do contrato, mas está marcada uma nova audiência para dar continuidade aos valores. Isso não é abandono de emprego. Compareci os três meses só recebendo o valor da carteira, que dá praticamente o valor que eu pagava de aluguel. O restante eles pagavam na conta, como imagem, e outra à parte, em mão. Eles têm que se explicar quanto a isso. Não houve abandono.
Sobre a denúncia de atraso de salários, Fernando Paiva negou que os vencimentos do atleta estejam atrasados.
- Salário atrasado não tem. O que tem não pago a ele é o direito de arena, que é proporcional à participação dos jogadores nos jogos. O direito de arena pode ser integral, normalmente é integral, não conta por jogo. Mas conta pelo menos que o atleta esteja dentro da equipe, esteja numa condição técnica, pegando relação, treinando bem, que esteja dentro do seu padrão físico. O jogador de futebol, além de estar bem tecnicamente, ele precisa estar fisicamente também. Então, como ele não atinge essas duas metas, não pega relação, como passa mais de 60 dias sem relação, de certa forma ele tem esse direito de arena prejudicado. Essa reclamação para com o CRB não é novidade. Ele entrou com a mesma reclamação com o Figueirense no ano passado.
Juliano também falou sobre esse problema em Santa Catarina.
- O caso do Figueirense foi que eles ficaram me devendo no final do ano. Treinei normal. É impossível o clube não te pagar, você sair e pronto. Tem que receber.
Passagem
Juliano, de 28 anos, também resumiu como foi a sua passagem pelo time de Alagoas.
- Cheguei ao CRB no início deste ano com a melhor expectativa do mundo. Além de ser um clube grande e que merece toda dedicação e respeito de qualquer profissional, tem uma torcida linda e gigante, além de uma boa estrutura e é um clube que cresceu e vem crescendo muito ao longo dos anos - contou. acrescentando.
- Infelizmente, os resultados não vieram. As coisas não se encaixaram da maneira que eu almejava, e isso é normal. Não joguei para perder em momento algum, aliás, ninguém quer perder e sei que todos que estavam no clube queriam o melhor para o futuro do CRB. Fiz tudo que estava ao meu alcance para ajudar dentro e fora de campo.
O volante atuou pela última vez na decisão do estadual, dia 8 de abril, contra o CSA. Ele lembrou que ainda jogou improvisado.
Minha última partida foi na final do Alagoano, onde fui escalado para atuar fora da minha posição, fiz para ajudar, mas como mencionei acima algumas coisas não se encaixaram, entrei com a intenção de desempenhar o meu melhor, jamais quis desapontar a torcida. Quando escalado nesta posição, poderia ter dito que não me sentiria bem improvisando como lateral esquerdo, sendo que meu ofício é ser volante, ainda mais se tratando de uma final importantíssima para todos, carregada de responsabilidades enormes não só para mim mas para todo o time, entretanto, como profissional, eu jamais fugiria de responsabilidades. Infelizmente lesionei nesta mesma partida e perdi total o espaço no clube.
por globoesporte.com/ Rio de Janeiro - Goiânia e Maceió
fotos Denison Roma - Paulo VItor