Amor pelo Flamengo, inspiração em Marta: conheça a rotina do time formado por índias em AL - Programa Show de Bola

GOVERNO DE ALAGOAS

GOVERNO DE ALAGOAS

Amor pelo Flamengo, inspiração em Marta: conheça a rotina do time formado por índias em AL

Wassu-Cocal vai disputar competição oficial em novembro e tem como destaque uma camisa 10 chamada Pelezinha. Atacante da seleção brasileira


Na aldeia também tem futebol. Mais precisamente nas terras Wassu-Cocal, que de acordo com o último Censo tem cerca de dois mil habitantes. Fazendo muito, mesmo com pouco, as meninas da tribo de Alagoas jogam bola e treinam para disputar a Copa Rainha Marta, marcada para novembro, em Maceió. O time vai entrar em campo com adolescentes a partir dos 14 anos. 

Ao todo, 40 atletas jogam nas equipes feminina e masculina da Wassu. Presidente e fundadora do clube, Geralda Maria comemora o sucesso e a inscrição das meninas numa competição oficial de futebol. Todas as jogadoras são nativas da tribo.


Fanáticas por futebol, a maioria das jogadoras torce pelo Flamengo. Até as cores do time indígena são inspiradas no Rubro-Negro carioca. Quem conta é o técnico João Paulo, que também é índio.

Apesar do espaço que o futebol vem ganhando na vida das índias, João Paulo lamenta as condições ruins em que as atletas treinam (duas vezes por semana). Algumas vezes as meninas precisam pedir chuteiras emprestadas dos meninos, por exemplo.

A presidente não esconde a realidade financeira do clube. As meninas chegam a usar a BR-101 como forma de arrecadar fundos para o time.

O futebol é diversão e também a profissão dos sonhos. Muitas meninas querem ser como a Marta, nascida em Dois Riachos (260 km da aldeia). A camisa 10 do time, Kleane Máximo, conhecida como Pelezinha, é uma delas. E muito antes dela vestir a camisa do Wassu, Geralda resolveu criar o clube em 1980.

Brincar de ser jogadora é ir além das barreiras impostas normalmente, ou daquelas que surgem por fatores geográficos e históricos. Ainda assim, Pelezinha, atacante do Wassu, diz acreditar em um novo cenário.

Em Alagoas, terra da rainha Marta, um novo nome enche os olhos das jogadoras: Geyse Pretinha. Natural de Maragogi, a atacante, de 21 anos, disputou a Copa do Mundo de Futebol Feminino pela primeira vez em 2019.

A jogadora da seleção brasileira não escondeu a emoção por saber que era inspiração das meninas da tribo e deu a maior força para elas seguirem a carreira.

Destaque da pequena aldeia, e conhecida em toda a cidade de Joaquim Gomes, Pelezinha, de 21 anos, disse que ganhou o apelido pelo talento.

Tímida com as palavras, mas íntima da bola, a jogadora nunca teve a oportunidade de sair da aldeia para jogar futebol, mas está otimista com a participação do seu time na Copa Rainha Marta. As expectativas superam as dificuldades.

O futebol começou nas origens. Pelezinha morava num lugar isolado, com uma área perfeita para bater bola, e assim seus irmãos faziam. Os irmãos, João e Ruan, por muito tempo não deixaram ela brincar com eles, mas, quando isso aconteceu, todos descobriram como ela era talentosa. ''Ela joga mais que os meninos!'', diziam os outros índios.

História da tribo

As terras Wassu-Cocal têm registros oficiais em 1830, mas a sua história é muito anterior a esse período. Há duas versões. Em uma, o espaço antes chamado apenas de aldeamento Cocal, foi conquistado após uma doação da coroa portuguesa, enquanto outra fala que a aldeia Cocal surgiu das migrações de indígenas Xucuru, Kariri e Tupi das aldeias de Jacuípe, Urucu e Barreiros para o Cocal durante o século XIX.

O longo contato com o homem branco afetou diretamente o estilo de vida dos Wassu. Por imposições e adaptações, o nativismo se misturou com a modernidade. Os rituais do Ouricuri alternam-se com a tecnologia, assim como as apresentações de Toré com um artesanato que tem mais influência da cidade. O fato é que as origens não morrem, nem somem, e no pequeno campo da aldeia ainda são feitos treinos com as vestimentas indígenas.

Luta pela terra

O cacique Edmilson José disse que os Wassu participaram da Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870. Apesar das promessas de que os índios teriam recompensas após a volta da guerra, nada aconteceu e, no fim, mesmo com demarcações que confirmavam as áreas habitadas como como territórios indígenas, houve o Decreto Provincial em 1872 e, com isso, os índios foram desaldeados e caracterizados como camponeses.

Somente em 1991 houve a confirmação da área de ocupação tradicional e permanente indígena. Hoje, os índios possuem suas áreas protegidas e demarcadas (27.580.000m²) e lá eles vivem, caçam, cultuam, e, claro, jogam muito futebol.

atualizado por www.programashowdebola.com.br   com globoesporte/al
foto Arquivo Pessoal