Rei Pelé, 50 anos: quando Alagoas virou um estádio
Crônica: em outubro de 70, o Trapichão deixou de ser concreto para se vestir de histórias
Um estádio vazio é apenas concreto. Sem torcida, ele vive de silêncio, poeira e cimento. O feitiço se dá um pouco antes do início da partida.
Em Maceió, quando o povo passa pela catraca, o Rei Pelé muda o formato. Ele se move nas passadas lentas, no imprensado que antecede o acontecimento. O estádio, antes inerte, reage no momento em que Alagoas enche as suas entranhas de vida.
Tomado pela multidão, ele vira o pastoril, o guerreiro, o Trapiche. Dorme Pajuçara e acorda Mutange. Respira CRB, vive CSA, flerta com o ASA. É a praia, é a brisa que lambe o rosto, é a lagoa, é a canção que embala a rede.
Tomado pela multidão, ele vira mais que uma bandeira de cores vivas, se transforma num exemplo de resistência.
E resiste ao tempo, feito a Serra da Barriga, e resiste à realidade. Nenhuma tarde no Rei Pelé é comum em dia de jogo. Ela produz memória, brinca com a imaginação da gente e veste o estádio de histórias.
E essas histórias estão em cada espaço daquelas arquibancadas; em cada centímetro da geral que não mais existe; na cabeça de quem vê o futebol como expressão da cultura alagoana, não apenas como um jogo de bola.
O time e a infância percorrem, juntos, todo o nosso tempo. Nas tardes de maio, nas noites de lua cheia ou nas trovoadas de janeiro.
Eles ficam lá dentro, de mãos dadas com os jogadores, e basta uma fagulha, um gol, para tudo voltar ao começo. Amor que não se perde.
- Óia o picolé, óia! - grita o vendedor na arquibancada.
A infância de tantos alagoanos é guardada hoje no cimento encantado do Rei Pelé. Concreto e memória agora se misturam.
A mudança se deu há 50 anos. Antes do primeiro gol, o Rei Pelé começou a se transformar em Alagoas na tarde do dia 25 de outubro de 1970, quando a multidão aflita soprou vida para dentro de sua enorme estrutura.
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